1. A Suécia (parceiro comercial de Portugal desde o ano de 1960, no âmbito da EFTA - Associação Europeia do Comércio Livre) e a Guiné-Bissau nunca tiveram, até ao final da década de 1960, praticamente quaisquer ligações (históricas, comerciais, ou outras).
Tor Sellström, do Instituto Nórdico de Estudos Africanos, tem um texto de 290 páginas, sobre "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau" (publicado em 2008, em versão portuguesa). (Vd. ficha técnica a seguir.)
No livro o autor conta-nos como é que de repente certas organizações suecas de solidariedade com a luta dos povos da África Austral e o governo sueco começaram a interessar-se pelo que se estava a passar naquele pequeno país de África Ocidental, que era/é a Guiné-Bissau, um território então sob administração portuguesa, com um escasso meio milhão de habitantes, e com um pequeno partido nacionalista, o PAIGC; a lutar pela sua independência.
E não apenas a interessar-se: a partir de 1969, a Suécia a dar uma "ajuda humanitária", substancial, que se prolongou muito para além da independência, até meados dos anos 90. "As exportações financiadas com doações da Suécia representavam, durante este período, entre 5 por cento e 10 por cento do total das importações da Guiné-Bissau".
Estamos a falar de valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95 (sendo de 53,5 milhöes de coroas suecas, ao valor actual, ou sejam, cerca de 5, 8 milhões de euros, de 1969/70 até 1976/77).
Passados estes anos todos, julgamos que ainda tem algum interesse, para os nossos leitores, saber um pouco maios desta história e dos seus meandros
Vamos continuar a seguir esta narrativa, reproduzindo, com a devida vénia, mais um excerto do livro de Tor Sellström. Já chamámos, logo no início, a atenção para alguns factos e dados que merecem a nossa contestação ou reparo crítico, nomeaadamente quando o autor fala do trajeto do PAIGC e do seu líder histórico, não citando fontes independentes e socorrendo-se no essencial da propaganda do PAIGC (ou de fontes que lhe estavam próximas)...
Já apontámos, nos postes anteriores, para alguns exemplos desse enviesamento político-ideológico: (1) a greve dos trabalhadores portuários do Pijiguiti e o papel do PAIGC; (ii) a batalha do Como: (iii) o controlo de 2/3 do território e de 400 mil. habitantes por parte do PAIGC; (iv) as escolas, as clínicas e as lojas do povo nas "áreas libertadas"; (v) o assassassinato de Amílcar Cabral. etc. .
O texto (na parte que nos interessa, a ajuda sueca ao PAIGC, pp. 138-172) tem demasiadas notas de pé de página, que podem ser úteis do ponto de vista documental mas sáo extremamente fastidiosas para a generalidade dos nossos leitores. (Vamos mantê-las, para não truncar a narrativa; podem ser lidas na diagonal)
Os negritos são nossos: ajudam a destacar alguns dos pontos importantes do texto. O "bold" a vermelho são passagens controversas, são uma chamada de atenção para o leitor, devendo merecer um comentário crítico (ou o recurso a leituras suplementares).
Corrigimos os excertos seguindo o Acordo Ortográfico em vigor.
Para já aqui ficam os nossos agradecimentos ao autor e ao editor, Nordiska Afrikainstitutekl (em inglês, The Nordic Africa Institute).
Ficha técnica:
Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Nordiska Afrikainstitutekl, Uppsala, 2008, 290 pp. Tradução: Júlio Monteiros. Revisão: António Lourenço e Dulce Åberg. Impresso na Suécia por Bulls Graphic, Halmstad 2008ISBN 978–91–7106–612–1.
Disponível em https://www.diva-portal.org/smash/get/diva2:275247/FULLTEXT01.pdf
(Também disponível na biblioteca Nordiska Afrikainstitutekl (ou Instituto Nórdico de Estudos Africanos) aqui, em "open acess" .)
Resumo dos excertos anteriores (*):
Com base numa decisão parlamentar aprovada por uma larga maioria, a Suécia tornou-se em 1969 o primeiro país ocidental a dar ajuda oficial aos movimentos nacionalistas das colónias portugueses (MPLA, PAIGC, FRELIMO). O PAIGC vai-se tornar o principal beneficiário dessa ajuda (humanitária, não-militar). Muito também por mérito de Amílcar Cabral e da sua habilidade diplomática. Até então, e sobretudo na primeira metade da década de sessenta, o debate na Suécia sobre a África Austral tinha quase exclusivamente sido centrado na situação na África do Sul, onde vigorava o apartheid.
O êxito da campanha contra a participação da empresa sueca ASEA no projecto de Cahora Bassa em Moçambique, por volta de 1968–69, na altura em que decorria a guerra do Vietname, levou a que os principais grupos de pressão (“Grupos de África”, oriundos de cidade como Arvika, Gotemburgo, Lund, Estocolmo e Uppsala) se ocupassem quase em exclusivo da luta armada nas colónias portuguesas, com destaque para a Guiné-Bissau(Parte I).Em 3 páginas (pp. 141-143), o autor faz um resumo da "luta de libertação na Guiné-Bissau", usando unilatereal e acriticameente informaçáo propagandística do PAIGC, alguma particularmente grosseira como a pretensão deste de controlar 400 mil habitantes... (Parte II).
Nas páguinas 144-147, fala-se dos primeiros contactos com o PAIGC e das primeiras visitas ao território (Parte III)
Excerto do índice (pág. 4)
O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno | Pág. |
As colónias portuguesas no centro das atenções | 138 |
A luta de libertação na Guiné-Bissau | 141 |
Primeiros contactos | 144 |
Caminho para o apoio oficial ao PAIGC | 147 |
Uma rutura decisiva | 152 |
Necessidades civis e respostas suecas | 154 |
Definição de ajuda humanitária | 157 |
Amílcar Cabral e a ajuda sueca | 161 |
A independência e para além dela | 168 |
O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno
(pp. 138-172)
Caminho
para o apoio oficial ao PAIGC (pp. 147-152)
Os visitantes descreveram a forma como o PAIGC estava a
construir uma sociedade democrática nas zonas libertadas, mantendo ao mesmo
tempo em curso a luta armada com os portugueses.
A construção da nova
sociedade, na qual a disponibilização de cuidados de saúde e de serviços de
educação era um elemento essencial, era ameaçada não só pelos constantes bombardeamentos
aéreos, mas também por uma enorme escassez de material e para as escolas e
clínicas rurais que iam sendo criadas. Foi com este enquadramento que o PAIGC
pediu ajuda à Suécia.
O primeiro pedido em nome do movimento de libertação foi
feito em Outubro de 1968 pelo historiador britânico Basil Davidson (49) a Per
Wästberg, um membro destacado do Comité Consultivo Sueco para a Ajuda
Humanitária, organismo criado pelo governo sueco (50). Wästberg, por sua vez,
apresentou o pedido ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (51).
Na sua carta,
Davidson, destacando que atuava unicamente como ”um intermediário”, confirmava
poder organizar ”um debate direto com o PAIGC na altura julgada mais
conveniente” (52), realçando haver ”uma necessidade urgente de serem
disponibilizadas algumas ajudas de tipo não-militar nas zonas libertadas”, e
acrescentando:
"Tenho a sensação de que seria muito útil se os nossos amigos
na Suécia pudessem, tão rapidamente quanto possível, angariar o dinheiro
necessário para comprar bens do seguinte tipo 1) produtos médicos, e 2) leite
em pó e carne enlatada. [...] A outra sensação que tenho é que devemos, neste
momento, concentrar-nos em avançar depressa em vez de querer fornecer grandes
quantidades. Estou especialmente a pensar nos muitos
casos relacionados com napalm que eles têm, ou na quase total
ausência de stocks de produtos de primeira necessidade ou, ainda, no facto de
(ao que julgo saber) estarem a receber muito pouca ajuda militar e quase
nenhuma ajuda não-militar" (53).
O secretário geral do PAIGC fez, menos de dois meses depois,
a sua primeira (de muitas) visitas à Suécia, a convite do Partido Social
Democrata (54). Essa visita marcou o início dos laços estreitos que uniriam a
organização de Cabral e o partido no poder na Suécia, bem como o movimento
organizado de solidariedade(55).
A visita teve lugar num momento crucial. A
campanha contra o projecto de Cahora Bassa em Moçambique dispunha de um apoio
bastante alargado e, em finais de Novembro de 1968, um grupo de activistas deu
início em Gotemburgo a ”acções directas” contra a ASEA, a que se seguiram,
pouco tempo depois, e um pouco por toda a Suécia, manifestações contra a
empresa e contra o próprio governo social democrata. Estava em curso o debate a
nível nacional quanto ao projecto de Cahora Bassa quando o governo votou, a 29
de novembro de 1968, a favor da Resolução 2395 da Assembleia Geral das Nações
Unidas sobre as colónias portuguesas.
Ao votar, o governo expressou oficialmente a sua preocupação
”com a actividade continuada e intensificada de interesses estrangeiros, de
tipo económico, financeiro e outros, que impedem a concretização das aspirações
legítimas dos povos africanos desses territórios”. Apoiava ainda o apelo feito
no sentido de ”conceder aos povos dos territórios sob domínio português a ajuda
moral e material necessárias para que os seus direitos inalienáveis sejam
repostos” (56).
Enquanto o governo do primeiro ministro Tage Erlander não
agiu de acordo com a sua posição internacionalmente declarada relativamente à
primeira questão ou seja, a recusa em intervir contra a ASEA, fê-lo
imediatamente no caso da assistência aos movimentos de libertação. Dez dias
depois, a 9 de Dezembro de 1968, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Torsten
Nilsson apresentou uma declaração de intenções fulcral, ao dizer que:
"A Suécia é
um dos estados que tem vindo a pedir que sejam aprofundados os esforços no
sentido de acabar com a política de discriminação racial na África Austral e
com a caduca e grotescamente provocadora política colonial portuguesa. Contudo,
como é do conhecimento geral, não podemos contar, num futuro próximo, com
passos no sentido de acabar com estas iolações. Que podemos então fazer, para
deixar bem patente a nossa solidariedade com estes povos oprimidos? [...] A
Suécia vem vindo, desde há longa data, a dar contribuições financeiras para a
formação de refugiados oriundos da África Austral e, para além disso, há já
alguns anos que ajudamos a custear as despesas de aconselhamento jurídico das
pessoas acusadas de crimes à luz das chamadas ”leis do apartheid” na África do
Sul. Temos também ajudado a garantir o sustento das pessoas a cargo daqueles
que têm sido presas ou detidas por razões definidas nas referidas leis. [...]
"Essas contribuições têm sido dadas para ajudar os povos
oprimidos de África que não conquistaram a liberdade. A luta continua e
mantemos contactos com vários líderes dos movimentos de libertação em África,
alguns dos quais nos solicitaram ajuda. Estamos preparados para ajudar, tal
como ajudamos a frente de libertação do Vietname do Sul, disponibilizando
medicamentos e material médico. A ajuda educativa aos membros dos movimentos,
através das suas organizações é também uma possibilidade que estamos dispostos
a analisar. Está em questão a disponibilização de ajuda humanitária. Essa ajuda
melhorará a situação dos membros desses movimentos e vai permitir-lhes
continuar com maior facilidade a sua luta para obter a liberdade para os seus
povos" (57).
Ao falar em contactos com líderes dos movimentos de
libertação de África, é muito provável que Nilsson se estivesse a referir
sobretudo a conversações tidas com Amílcar Cabral pouco tempo antes. Pierre
Schori, que participou nas conversações com o líderdo PAIGC, descreveria mais
tarde Cabral como ”um mestre da diplomacia [...], uma pessoa notável e uma
grande figura internacional, que era portador de uma mensagemextremamente
positiva” (58).
Que tenha sido Cabral a pessoa que, ao fim de anos de
contactos estreitos entre a Suécia e líderes nacionalistas da África Austral,
acabaria por ”quebrar o gelo” quanto à ajuda oficial directa, é algo que fica
patente pela celeridade com que ogoverno, após a sua visita, deu forma e
conteúdo à declaração de Nilsson. Pouco mais de duas semanas volvidas sobre a
declaração, o embaixador da Suécia na Libéria, Olof Ripa,recebeu instruções
para entrar em contacto com o governo em Conacri para apurar se a ajuda directa
da Suécia ao PAIGC seria ou não aceitável para o governo anfitrião (59).
Ripa
respondeu em Fevereiro de 1969 que o governo de Sékou Touré apoiava o PAIGC e
que ”sem a mais pequena sombra de dúvida, participaria activamente no envio de
remessas de ajuda humanitária da Suécia para os movimentos de libertação” (60).
Durante a sua estadia em Estocolmo, Cabral visitou também a
ASDI, onde pôde confirmar, em traços gerais, o teor do pedido feito por
intermédio de Basil Davidson edeu mais pormenores quanto às necessidades do
PAIGC nas áreas da saúde, educação e necessidades básicas, tais como alimentos e
têxteis (61).
No seguimento dessas conversaçõese com base na declaração de
intenções do governo, em Abril de 1969 o director geral daASDI, Ernst Michanek,
tomou (ainda antes de o parlamento sueco ter tornado públicoo seu
posicionamento sobre este mesmo princípio) a decisão de enviar uma missão para
apuramento de factos ao Senegal e à República da Guiné62 com a finalidade de
”estudar as condições para entrega de ajuda ao PAIGC” (63).
A missão oficial, chefiada por Curt Ström, responsável pelo
departamento de formação da ASDI, esteve na África Ocidental em meados de Maio
de 1969, na mesma alturaem que a Comissão Permanente do Parlamento para as
Dotações (64) discutia a questão geral do apoio sueco aos movimentos africanos de
libertação. A conclusão foi que essa ajuda estava em conformidade com o direito
internacional, ”nos casos em que as Nações Unidas tenham tomado uma posição
inequívoca contra a opressão de povos que lutam pela liberdade nacional” (65).
A
Suécia tornar-se-ia assim no primeiro país ocidental industrializado a apoiar
uma política de ajuda humanitária oficial directa aos movimentos de libertação
nas colónias portuguesas, no Zimbabué, na Namíbia e na África do Sul (66).
No caso
da ”Guiné portuguesa”, a decisão fazia referência expressa ao PAIGC e aos
passos preparatórios a dar relativamente à ajuda sueca, declarando-se que de
acordo com a informação recebida pelo comité, estão a ser exploradas as
possibilidades práticas de alargar a ajuda humanitária sueca no campo da
educação às vítimas da luta travada sob a liderança do Partido Africano da
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no sentido de libertar a Guiné
portuguesa da soberania de Portugal. O comité tem, entre outros aspectos, com
referência ao apoio que já está a ser alargado, por forma a abarcar o Instituto
Moçambicano (67), uma abordagem positiva relativamente a esse tipo de ajuda,
caso seja possível ultrapassar os problemas de índole prática, e partindo do
princípio que o governo vai explorar as possibilidades de acção que se lhe
apresentem (68).
A Guiné-Bissau não faz parte da África Austral. Num sentido
estrito, as relações da Suécia com o PAIGC não devem portanto ser incluídas
neste estudo. Contudo, o PAIGC tinha uma ligação estreita com o MPLA de Angola
e com a FRELIMO de Moçambique.
Em conjunto com os seus aliados do CONCP e com a SWAPO da
Namíbia, o ANC da África do Sul e a ZAPU do Zimbabué, fazia, para além do mais,
parte do chamado Grupo de Cartum de ”autênticos” movimentos de libertação. Num
contexto internacional, a luta de libertação na pequena colónia portuguesa
situada na costa da África Ocidental estava, no âmbito do contexto acima
descrito, muitas vezes justaposta com as lutas na África Austral. Esta
justaposição é, em larga medida, de incentivar e utilizar como fonte de
inspiração.
A importância da cooperação com o PAIGC para a participação
sueca na questão da África Austral é enorme. O primeiro programa global sueco
alguma vez concebido para dar ajuda humanitária directa e oficial a um
movimento de libertação africano foi criado em conjunto com o PAIGC, o qual,
por sua vez, estava profundamente empenhado numa luta armada contra uma nação
europeia que tinha ligações comerciais formais com a Suécia, facto que
determinou o carácter e as limitações da ajuda.
Apesar de apelos veementes,
feitos pelo movimento de solidariedade não-governamental e pela esquerda socialista
de uma forma geral, em prol de um ”apoio incondicional”, ou seja, que fossem disponibilizadas
verbas que o PAIGC pudesse usar a seu belo prazer, foi mantida uma orientação
para a vertente humanitária.
Apesar disso, as autoridades passaram, pouco tempo
depois, a equacionar ajuda ”humanitária” com ajuda ”não-militar” ou ”civil” e, consequentemente,
a alargar o âmbito dessa cooperação. Particularmente significativa foi a
interpretação de ajuda humanitária ao PAIGC feita pelo governo sueco e pela
ASDI, e que foi posteriormente aplicada aos movimentos de libertação na África
Austral. A cooperação com o PAIGC não apenas definiu o conteúdo geral e a
estrutura do programa de ajuda oficial da Suécia aos movimentos de libertação, mas
criou também uma cultura institucional dentro da ASDI, e entre esta e o
Ministério dos Negócios Estrangeiros. Daí que seja relevante fazer um esboço da
cooperação entre o governo sueco e o PAIGC (69).
_______________
Notas do autor:
(44) Rudebeck participou activamente no Comité da África do
Sul de Uppsala/Grupo de África. Voltou à Guiné-Bissau em 1972. Mais tarde
professor assistente de ciências políticas na Universidade de Uppsala, Rudebeck
publicou em 1974 um livro intitulado Guinea-Bissau: A Study of Political
Mobilization (”Guiné-Bissau: Um estudo da mobilização política”) (op.
cit.).
(45) Knut Andreassen e Birgitta Dahl: Guiné-Bissau:
Rapport om ett land och en befrielserörelse (”Guiné-Bissau: Relatório sobre
um país e um movimento de libertação”), Prisma, Estocolmo, 1971. Dahl, que na
altura desempenhava um cargo na ASDI, viria a ser nomeada Ministra da Energia
(1982–90) e do Ambiente (1986–91). Tornou-se presidente do parlamento sueco em
1994.
(46) Tal como Bengt Ahlsén: Portugisiska Afrika:
Beskrivning av ett kolonialimperium och dess sönderfall (”A África portuguesa:
Apresentação de um império colonial e sua queda”), Svenska Utbildningsförlaget
Liber AB, Estocolmo, 1972. Após uma visita, em finais de 1971, às zonas
libertadas, Anders Ehnmark e o fotógrafo Jean Hermanson publicaram Exemplet
Guiné-Bissau: Ett reportage om en befrielserörelse (”O exemplo da
Guiné-Bissau: Relatório sobre o movimento de Libertação”), Bokförlaget
PAN/Norstedts, Estocolmo, 1973. O jornalista norueguês Johan Thorud acompanhou-os
na viagem, publicando o seu próprio relato na Noruega (Geriljasamfunnet:Guiné-Bissaus
kamp mot Portugal / ”A sociedade da guerrilha: A luta da Guiné-Bissau
contra Portugal”, Tiden, Oslo, 1972).
(47) Uma vez que os conhecimentos que a ASDI detinha sobre o
PAIGC e sobre a situação nas zonas libertadas era limitado, pediu-se a Palm e a
Dahl que apresentassem à agência relatos das suas visitas, documentos esses que
teriam depois um papel importante na tomada de decisão de aumento da ajuda
oficial sueca ao MPLA de Angola.
(48) Marianne Rappe:
Memorandum (”Samtal med Folke Löfgren på SIDA den 21.4.1972: PAIGC”/”Conversa com
Folke Löfgren na ASDI 21.4.1972: PAIGC”), ASDI, Estocolmo, 24 de Abril de 1972
(MFA).
Foto: Birgitta Dahl acompanhando o PAIGC às zonas libertadas
da Guiné-Bissau em Novembro de 1970. (Foto: Knut Andreassen)
(49) Davidson estava muito ligado à causa nacionalista nas
colónias portuguesas desde os anos cinquenta e visitou as zonas libertadas na
Guiné-Bissau em 1967. O seu relato, intitulado The liberation of Guiné ,
foi publicado em 1969 em língua sueca, com o título Frihetskampen i
Guiné-Bissau (Natur och Kultur, Estocolmo).
(50) Inicialmente criado em 1964 para aconselhar o governo na
área da ajuda oficial sueca aos jovens refugiados africanos na área da
educação, os membros do CCAH (nomeados oficialmente) representaram o Ministério
dos Negócios Estrangeiros, a ASDI, as OGNs mais representativas e pessoas com
conhecimentos especiais sobre a África Austral. Per Wästberg fazia, a título de
exemplo, parte deste último grupo.
O comité desempenhou um papel vitaldo ponto
de vista dos destinatários da ajuda humanitária enviada pela Suécia. A começar
pela decisão do parlamento sueco de aumentar a ajuda directa oficial aos
movimentos africanos de libertação, o seu mandato e número de membros foi
aumentando gradual e regularmente ao longo dos anos. Para além de dar
assessoria à África Austral, o CCAH deu depois o seu apoio ao governo sueco na
questão da ajuda humanitária à América Latina. O apoio dado pela Suécia ao
Vietname e aos movimentos nacionalistas na Indochina nunca fez, contudo, parte
do mandato do CCAH.
O comité foi presidido pelo director geral da ASDI, que
contava com o apoio de um pequeno secretariado,composto por funcionários da
ASDI e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, para preparar as reuniões e os
pontos que nelas haviam de ser discutidos.
Por norma, as recomendações eram
apresentadas sob a forma de memorandos, cujo conteúdo se baseava, por sua vez,
em contribuições e comentários feitos por agentes relevantes no terreno. O
trabalho do Comité era feito num espírito de estrita confidencialidade, havendo
registo apenas das decisões tomadas e nunca dos debates tidos. As recomendações
apresentadas pelo secretariado foram, com poucas excepções, seguidas pelo
comité e aprovadas pelo governo, para serem aplicadas pela ASDI.
Num período de
ano e meio, entre 1981–82 – 1982–83, por exemplo, o CCAH discutiu 100 pedidos,
que representaram no total um valor próximo dos 270 milhões de coroas suecas,
ao longo de 13 reuniões. Em 91 casos, o comité seguiu o parecer do
secretariado, propondo uma dotação superior em 2 dos casos e uma dotação mais
reduzida ou a rejeição pura e simples da proposta em 7 casos (SIDA/Kjellmer:
Memorandum (”Beredningen för humanitärt bistånd: Ärenden 1981–82 och
1982–83”/”Comité Consultivo para Ajuda Humanitária: Pontos 1981–82 e 1982–83”),
ASDI, Estocolmo, 17 de Fevereiro de 1983) (SDA).
(51) Carta enviada por Per Anger, Ministro dos Negócios
Estrangeiros, a Olof Ripa, embaixador sueco na Libéria, Estocolmo, 19 de
Dezembro de 1968 (MFA).
(52) Carta enviada por Basil Davidson a Per Wästberg,
Londres, 17 de Outubro de 1968 (MFA).
(53) Ibid.
(54) Arbetet, 13 de Dezembro de 1968. Durante a sua visita à
Suécia, nos finais de Novembro de 1968, Amílcar Cabral encontrou-se também com
C.H. Hermansson, secretário geral do Partido de Esquerda Comunista (Comité da África
do Sul de Uppsala: ”Protokoll”/”Actas”, Uppsala, 8 de Novembro de 1968) (UPA).
De acordo com Onésimo Silveira, representante permanente do PAIGC na Suécia,
”os contactos com os partidos comunistas do Ocidente eram, contudo, diminutos”
e o PAIGC não quis ”imiscuir-se nas suas lutas” (ibid).
55. O Partido Social-Democrata e o PAIGC já tinha entabulado
contactos antes da visita de Cabral à Suécia, em finais de 1968. Já antes,
nesse mesmo ano, o partido no poder tinha, por exemplo, doado 10.000 coroas
suecas ao movimento de libertação, dinheiro esse retirado do Fundo
Internacional para a Solidariedade, criado em Outubro de 1967 (Pierre Schori em
Arbetet, 13 de Dezembro de 1968). Tinham também sido feitos contactos
estreitos, atravésde Onésimo Silveira, que vivia e estudava em Uppsala, com o
Comité da África Austral dessa cidade universitária.
Esses contactos haveriam de levar o movimento sueco para a
solidariedade a apoiar o PAIGC. Em meados de 1968, apenas para dar um exemplo,
foi enviada uma unidade de raios-x para o PAIGC em Conacri, com a ajuda do Comité da África do Sul de Uppsala: ”Protokoll”/”Actas”, Uppsala, 30 de
Junho de 1968) (UPA).
Cabral visitou também Uppsala durante a sua estadia na
Suécia, comparecendo numa reunião pública co-organizada pelo Comité da África
do Sul, a Associação Social-Democrata Laboremus, a Associação de Estudantes de
Verdandi e a Liga da Juventude do Partido de Esquerda (VUF). A reunião teve
lugar na Universidade a 27 de Novembro (”Amílcar Cabral: Demonstrationer inte
nog. Vi behöver konkret hjälp”/”Amílcar Cabral: As manifestações não chegam,
precisamos de ajuda concreta” em Uppsala Nya Tidning, 28 de Novembro de 1968).
Em 1969 o Comité da África do Sul de Uppsala deu início a uma campanha de angariação
de fundos a nível nacional em prol do PAIGC (Södra Afrika Informationsbulletin, n. 12, 1971, p. 49) e, como acima foi dito, vários membros do comité, entre os
quais Bertil Malmström, Lars Rudebeck e Birgitta Dahl, visitaram as zonas
libertadas da Guiné-Bissau em 1969–70.
Como forma de protesto pela visita de
estado do presidente senegalês Léopold Senghor à Suécia (Senghor era visto como
um traidor do PAIGC), que se realizou em Maio de 1970, o Comité da África do
Sul de Uppsala e um conjunto de organizações políticas montaram espectaculares
manifestações, ligadas com o seu aparecimento na universidade (”En Diktare och
Diktator Besöker Norden”/”Um poeta e ditador visita os países nórdicos” em
Södra Afrika Informationsbulletin, no. 9, 1970, pp. 5–8 e
”Senghor-rättegången”/ ”O Julgamento Senghor” em Södra Afrika
Informationsbulletin, no. 14, 1972, pp. 23–25).
(56) Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 2395
(XXIII) de 29 de Novembro de 1968, citada no Yearbook of the United Nations:
1968, Gabinete de Informação ao Público, Nações Unidas, Nova Iorque, 1971, p.
804.
(57) ”Discurso do
Ministro dos Negócios Estrangeiros”, 9 de Dezembro de 1968 no Ministério dos
Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1968, Estocolmo,
1969, p. 116.
(58) Entrevista com Pierre Schori, p. 333.
(59) Carta de Per Anger, Ministério dos Negócios
Estrangeiros, enviada a Olof Ripa, embaixador da Suécia na Libéria, Estocolmo,
19 de Dezembro de 1968 (MFA).
(60) Carta de Olof Ripa, embaixador da Suécia na Libéria
enviada a Per Anger, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Monróvia, 19 de
Fevereiro de 1969 (MFA).
(61) Kerstin Oldfelt: Memorando (”Humanitärt bistånd till
Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)”/”Ajuda
humanitária ao PAIGC”), ASDI, Estocolmo, 22 de Julho de 1969 (SDA).
(62) Curt Ström: ”Reserapport” (”Relato de viagem”), ASDI,
Estocolmo, 13 de Junho de 1969 (SDA).
(63) Ibid.
(64) Em sueco, Statsutskottet.
(65) Parlamento sueco 1969: Declaração no. 82/1969 pela
Comissão das Dotações, p. 24.
(66) Ironicamente, o deputado que assinou a histórica
declaração da Comissão Permanente sobre Dotações foi Gösta Bohman. No ano
seguinte, tornou-se Presidente do Partido Moderado, conservador, o único
partido sueco tradicional a excluir-se da parceira alargada com os movimentos
de libertação na África Austral.
(67) O apoio oficial sueco ao Instituto Moçambicano da
FRELIMO, sediado em Dar es Salaam, na Tanzânia, tinha vindo a aumentar desde
1965.
(68) Parlamento sueco, 1969: Declaração no. 82/1969 pela
Comissão das Dotações, p. 24.
(69) Incluído
sobretudo como uma introdução ao tema da ajuda sueca aos movimentos de
libertação da África Austral, o ”desvio” pela via do PAIGC e da Guiné-Bissau, é
tudo menos global. Apesar de serem dados exemplos que ilustram o âmbito e o
carácter da ajuda do governo sueco, o importante papel desempenhado pelo
Partido Social-Democrata, pelos Grupos de África e por outras organizações de
solidariedade, não recebe o reconhecimento devido.
Para além de tudo aquilo que
é acima referido, deve notar-se também que o Partido Social-Democrata e a Liga
da Juventude Social-Democrata recolheram fundos para a produção, no final dos
anos sessenta, por parte do PAIGC, dos primeiros manuais escolares em
português. O primeiro livro (PAIGC: O Nosso Livro: 1ª Classe”) foi impresso em
1970 pela Wretmans Boktryckeri, em Uppsala, com uma tiragem de 20.000
exemplares. Nesse mesmo ano a Wretmans publicou (”O Nosso Livro: 2ª Classe”),
com uma tiragem de 25.000 exemplares. Ao lado do nome da editora, na capa do
segundo livro, dizia-se que o livro era publicado pelo PAIGC nas ”zonas
libertadas da Guiné”.
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Nota do editor: